Vivemos uma emergência climática e temos ouvido que somos a primeira geração a sentir os efeitos da devastação do meio ambiente e a última a poder fazer algo.
Nesse sentido, um relatório produzido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em parceria com o Escritório da ONU para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR),
ressalta o crescimento no número de desastres ligados ao clima nos últimos 50 anos, com pouco mais de 2 milhões de mortes, 91% delas em países em desenvolvimento, e 3,47 trilhões de dólares em perdas financeiras.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), uma das principais vozes quando o assunto é mudanças climáticas, é unânime ao dizer que a atividade humana influencia esse cenário, considerado urgente.
A partir daí, surge a reflexão: qual é o papel da Educação na formação de indivíduos mais conscientes em relação à preservação do meio ambiente?
Nas últimas três décadas podemos perceber uma preocupação crescente na forma como a sociedade tem explorado os recursos naturais disponíveis no planeta; e na Educação, esse olhar mais atento não foi diferente.
No Brasil, as temáticas ambientais entraram na pauta escolar de maneira mais consistente a partir da década de 1990, tendo como Marco Regulatório o Decreto Federal nº 4.281, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, em 2002.
Para Paulo Cunha, biólogo, professor e consultor da área de Gestão em Tecnologias da Educação, da Fundação Vanzolini, as questões ambientais devem ser analisadas em conjunto com outras igualmente importantes, como, por exemplo, a pobreza, a desigualdade econômica e o racismo.
Ele reforça que, nesse sentido, “o uso do termo ‘Educação para a sustentabilidade’ procura enfatizar a necessidade de um processo educativo que dê aos estudantes situações nas quais possam analisar e avaliar as relações entre sociedade e meio ambiente e compreender que as dimensões política, econômica, social e ambiental são indissociáveis”, comenta.
Cunha dá como exemplo o conceito de desenvolvimento sustentável, aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos naturais existentes para o futuro.
Segundo ele, estar alinhado a esse modelo de desenvolvimento é relevante para a formação das pessoas, porque sua compreensão requer que o sujeito mobilize conhecimentos e saberes de diferentes áreas, passando da economia à ecologia, geografia, história, biologia etc., e expressa ao mesmo tempo o desenvolvimento humano, o econômico, o social e o ambiental.
A abordagem por áreas do conhecimento proposta pelo Novo Ensino Médio também pode ser considerada um avanço nesse sentido, como apontou o especialista. A reforma do Currículo proporcionou situações didáticas mais inter e transdisciplinares envolvendo questões ligadas ao meio ambiente e ao clima.
Além dos conhecimentos agregados, do ponto de vista da formação dos estudantes, a proposta tem ainda outra contribuição: desenvolver o pensamento complexo das alunas e alunos.
“De acordo com o filósofo francês Edgar Morin, essa é uma maneira de edificar caminhos para se construir um conhecimento interpretativo sobre a humanidade, a sociedade, a educação e suas relações entre si e destas com o mundo físico e natural. Algo necessário para que a humanidade possa enfrentar seus grandes desafios na atualidade”, ressalta Cunha.
Entre esses desafios, lembra o biólogo, é possível citar a desigualdade social, o déficit crescente de oportunidades de trabalho digno, o colapso dos recursos naturais e a necessidade de se preservar os ambientes naturais e desenvolver processos para explorá-los de modo sustentável.
Outra forma apontada como efetiva por Paulo Cunha para fomentar a reflexão sobre a relação do indivíduo com o seu entorno e seu impacto no meio ambiente é o contato com o verde, algo cada vez mais raro. Segundo especialistas, esse déficit de natureza pode ter como consequência maiores taxas de sedentarismo, obesidade e até mesmo transtornos mentais, como a ansiedade.
Mas Paulo Cunha reforça que aprender sobre e com a natureza é uma forma não só de desenvolver a saúde emocional dos estudantes, como também a cognitiva e social, e, acima de tudo, uma maneira de entendermos quem somos enquanto espécie neste planeta.