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Gestão das águas pluviais e permeabilidade do solo nas cidades: breve perspectiva baseada em requisitos da certificação AQUA-HQE™

Postado em Certificação | 7 de agosto de 2025 | 10min de leitura
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Concreto, asfalto e mais concreto. Eis a selva de pedra que sofre, ano após ano, com os efeitos da impermeabilização do solo.

A expansão desordenada de áreas urbanas, caracterizada pela predominância de construções e superfícies de asfalto, concreto e outras estruturas inertes, tem alterado drasticamente a configuração da infraestrutura azul e verde nas áreas urbanas.

O excesso de superfícies impermeáveis, sobretudo nas grandes cidades, dificulta a infiltração da água da chuva no solo, agravando os alagamentos urbanos.

Além disso, a ausência de áreas permeáveis, associado à supressão da vegetação, contribui para o aumento da temperatura ambiente, criando as chamadas “ilhas de calor” urbanas, que intensificam o desconforto térmico urbano e podem impactar no aumento do consumo de energia.

Para compreender melhor sobre a importância da permeabilidade do solo e gestão das águas pluviais nas cidades e descobrir como a certificação AQUA-HQE™ pode contribuir para construções mais sustentáveis, siga com a leitura!

O que é permeabilidade do solo e por que ela importa?

A permeabilidade do solo diz respeito à sua capacidade de permitir a passagem de líquidos, como a água da chuva, através de seus poros e vazios. Solos com boa permeabilidade funcionam como uma esponja natural, absorvendo a água da chuva e permitindo que ela se infiltre lentamente no subsolo, onde recarrega os lençóis freáticos e é purificada por processos naturais.

Este processo é de suma importância para a manutenção do equilíbrio ambiental e para a sustentabilidade das cidades.

Desse modo, entre os benefícios da permeabilidade do solo, podemos destacar:

  • Redução do escoamento superficial e, consequentemente, prevenção de enchentes e deslizamentos de terra;
  • Filtragem de poluentes, melhorando a qualidade da água que chega aos rios e aquíferos, favorecendo a biodiversidade e criando habitats para a fauna e flora locais;
  • Melhoria no conforto térmico urbano, atenuando o efeito das ilhas de calor e proporcionando espaços verdes para lazer e bem-estar da população;
  • Reduz os custos com infraestrutura de drenagem, minimiza os prejuízos causados por desastres naturais.

Ou seja, a permeabilidade do solo está diretamente relacionada com a gestão de águas pluviais, sendo um pilar fundamental para a implementação de soluções de infraestrutura verde.

Ao permitir a infiltração da água, o solo permeável atua como um sistema de drenagem natural, reduzindo a sobrecarga em redes de esgoto e galerias pluviais. Além disso, a permeabilidade do solo é crucial para a manutenção da biodiversidade urbana, oferecendo condições para o desenvolvimento de raízes de plantas e a vida de microrganismos.

A capacidade do solo de absorver e reter água também é um fator chave para a resiliência climática das cidades, tornando-as mais preparadas para enfrentar eventos extremos como chuvas intensas e períodos de seca prolongada.

Crescimento desordenado e o desafio das metrópoles

De acordo com reportagem publicada na BBC News, a cobertura vegetal da cidade de São Paulo, atualmente, é de 48% do território, contabilizando desde áreas de reserva e protegidas até parques, canteiros e gramados.

O dado é da Rede Nossa São Paulo, organização da sociedade civil que há dez anos divulga o Mapa da Desigualdade. Ou seja, dos cerca de 1.527 km² da capital paulista, 735,99 km² são áreas verdes.

O percentual coincide com um estudo divulgado pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA), em 2020, feito em 2017 com laser LiDAR (Light Detection And Ranging), a partir de sobrevoos por toda a extensão de São Paulo.

Por meio desse mapeamento digital, foi possível compreender que a cidade de São Paulo segue crescendo, com perda de vegetação florestal e aumento das áreas impermeabilizadas.

Ainda segundo a reportagem, as áreas verdes de São Paulo estão distribuídas de forma bastante desigual no mapa da cidade e, grande parte delas, nem sequer está concentrada no espaço urbano.

De acordo com o estudo divulgado em 2020 pela SVMA, que aponta cobertura vegetal em 48% do município, a parte rural (31,78% do território) possuía 79,37% de cobertura vegetal, enquanto a urbana (os 68,22% restantes) concentrava apenas 33,65%.

Além de pouca, a área verde é má distribuída na capital: em 46 dos 96 distritos da cidade, a área verde é menor do que 20%, conforme o Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo.

Outro exemplo de município que sofre com as consequências da impermeabilização do solo é Cuiabá – uma das cidades mais quentes do Brasil.

Segundo o projeto Água Para o Futuro, do Ministério Público de Mato Grosso (MPE), a capital possui 28 córregos e 269 nascentes. No entanto, a maioria deles desapareceu por conta de décadas de canalizações e obras de urbanização sem planejamento ambiental.

O resultado é o aumento das temperaturas e dos alagamentos na capital.

Isso porque, a cidade ficou com menos solo permeável e menos cursos d’água para absorver o volume das chuvas, especialmente no período úmido.

Quais as soluções baseadas na natureza e em infraestrutura verde para conter a impermeabilização do solo?

Com o crescimento exponencial nos centros urbanos, a Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que 70% da população mundial deverá estar inserida em áreas urbanas até 2050. Então, é preciso agir agora para que possamos ter um futuro possível.

Para o enfrentamento da impermeabilização do solo, temos soluções baseadas na natureza (SBN) e na infraestrutura verde como alternativas promissoras e eficazes.

As SBNs utilizam processos naturais para resolver problemas ambientais, enquanto a infraestrutura verde integra elementos naturais e artificiais para prover serviços ecossistêmicos.

As duas abordagens buscam mimetizar os processos da natureza, permitindo que a água da chuva seja absorvida, filtrada e gerenciada de forma sustentável no ambiente urbano.

Como exemplos práticos dessas soluções, podemos destacar:

  • Pavimentos drenantes: Utilizam materiais porosos que permitem a infiltração da água da chuva diretamente no solo, em vez de direcioná-la para a rede de drenagem. São ideais para estacionamentos, calçadas e vias de baixo tráfego.
  • Telhados verdes: Consistem na cobertura de telhados com vegetação, que além de reter a água da chuva, contribuem para o isolamento térmico das edificações, a melhoria da qualidade do ar e a criação de novos espaços verdes.
  • Jardins de chuva: São depressões no terreno que coletam e filtram a água da chuva de áreas impermeáveis, permitindo sua infiltração gradual no solo. Contribuem para a beleza paisagística e para a biodiversidade.
  • Bacias de infiltração e reservatórios: Estruturas projetadas para coletar grandes volumes de água da chuva, permitindo sua infiltração no solo ou seu armazenamento para uso posterior, como irrigação ou reuso.

Como exemplo de cidade ao redor do mundo que tem adotado essas boas práticas, temos Copenhague, na Dinamarca. Considerada uma das cidades mais verdes do planeta, ela conta com:

  • Mais de 400 km de ciclovias que interligam a capital à outros municípios;
  • 50% da população utiliza as bicicletas como meio de transporte – uma mudança drástica na cultura e na mobilidade da cidade;
  • Possui leis que obrigam certos edifícios adotarem telhados verdes para absorverem até 80% da água da chuva por ano;
  • Plano de arborização frutífera pela cidade;
  • Um dos maiores parques eólicos situados no mar;
  • O Plano de Mudança Climática de Copenhague planeja que até 2025 a cidade não emita gás carbônico.

Como a certificação AQUA-HQE™ contribui para permeabilidade do solo?

Na busca por soluções mais sustentáveis na construção civil e no planejamento urbano, o selo AQUA-HQE™ (Alta Qualidade Ambiental – HQE – Haute Qualité Environnementale) desponta como uma ferramenta essencial para incentivar projetos que valorizam a permeabilidade do solo e a gestão eficiente das águas.

A certificação, de origem francesa e adaptada ao Brasil pela Fundação Vanzolini, estabelece critérios e orientações para a construção e operação de empreendimentos residenciais, não residenciais, de planejamento urbano e infraestruturas através da promoção e incentivo de melhorias no desempenho ambiental.

Quando se trata da gestão da água, solo e paisagismo sustentável, o selo AQUA-HQE™ aborda aspectos cruciais, como:

  • Gestão da água: Incentiva a redução do consumo de água potável, o reuso de águas cinzas e pluviais, e a minimização do escoamento superficial através de soluções de infiltração e retenção.
  • Paisagismo sustentável: Fomenta o uso de espécies nativas, a criação de jardins de chuva, telhados verdes e outras soluções que contribuam para a biodiversidade, a permeabilidade do solo e a redução do efeito de ilhas de calor.

Dessa forma, o selo AQUA-HQE™ incentiva projetos que valorizam a permeabilidade do solo e gestão das águas pluviais ao incorporar requisitos específicos em seus referenciais técnicos.

Veja um exemplo prático: no referencial AQUA-HQE™ Edifícios Residenciais em Construção – versão 2024, podem requerer pontuação na certificação projetos de empreendimentos que prevejam:  taxa de permeabilidade maior do que parâmetros mínimos previstos em legislação, que implementem de sistemas reuso de águas pluviais (para rega de áreas verdes do próprio edifícios, por exemplo), pela adoção de soluções de infraestrutura verde (jardim de chuva) etc.

Ao guiar e sensibilizar arquitetos, urbanistas, gestores públicos, incorporadoras e construtoras na direção de práticas mais sustentáveis e melhoria contínua.

Fundação Vanzolini: referência na certificação de construções sustentáveis com a certificação AQUA-HQE™

A Fundação Vanzolini é referência em certificações no Brasil e desempenha um papel importante na formação, na orientação e no preparo de profissionais e empresas da construção civil, para uma atuação alinhada com os requisitos da certificação AQUA-HQE™.

Desenvolvidos pela Fundação Vanzolini em parceria com a USP, os requisitos da certificação AQUA-HQE™ foram adaptados de acordo com a legislação, normas técnicas e clima nacional com o propósito de agregar valor e promover a sustentabilidade nas construções realizadas no Brasil.

Independentemente do tipo de empreendimento, seja edifício, planejamento urbano ou infraestrutura e em todas as fases de seu ciclo de vida, a certificação AQUA-HQE™ adota uma visão global multitemática e multicritério que combina qualidade de vida, respeito ao meio ambiente, desempenho econômico e gestão e governança para um ambiente de vida sustentável, consistente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. 

Se você deseja ser parte de uma mudança social e ambiental para um futuro possível, conheça mais sobre o selo AQUA-HQE™ e como aplicá-lo em seus projetos com a Fundação Vanzolini!

Leia mais em:

Do projeto à desconstrução: como a certificação AQUA-HQE™ integra a gestão de resíduos em todo o ciclo de vida

AQUA-HQE™: construções sustentáveis e o aquecimento urbano

Construção sustentável: AQUA-HQE™ e CASACOR abordam impacto ambiental

Para mais informações sobre a certificação AQUA-HQE:

seloaqua@vanzolini.org.br
(11) 3913-7100
Setor comercial e de agendamento:
certific@vanzolini.org.br
(11) 9 6476-1498
(11) 3913-7100

Fontes:

Sistema de drenagem atualizado e áreas permeáveis poderiam ter evitado danos da chuva em SP, afirmam especialistas

Cuiabá tem 28 córregos e maioria está escondida sob o asfalto

Prefeito de São Paulo diz que mais da metade da cidade são áreas verdes. É verdade?

Os impactos da falta de permeabilidade do solo na cidade de São Paulo

3 cidades sustentáveis preparadas para o futuro

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