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Desenvolvimento sustentável no setor energético foi tema do Fórum promovido pela Fundação Vanzolini em comemoração aos seus 55 anos

Postado em Certificação | 6 de abril de 2022 | 6min de leitura
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A matriz energética brasileira é considerada uma das mais renováveis dentre todas as grandes economias mundiais, apesar de ainda contar com a presença de fontes poluentes.

Segundo estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil lidera o ranking de países com energia renovável dentro do Brics, composto pela Rússia, Índia, China e África do Sul, ao ter 45% de sua energia advinda de maneira limpa e renovável, enquanto a média mundial é de 14%.

Esse foi um dos assuntos abordados durante o Fórum Energia e Sustentabilidade, promovido pela Fundação Vanzolini, no dia 31 de março, data em que completou 55 anos. “O tema escolhido foi uma feliz e oportuna distinção, pois está inserido no grande desafio do desenvolvimento sustentável, algo que a Fundação Vanzolini se compromete ao longo dos 55 anos de existência“, iniciou o presidente da Diretoria Executiva da FCAV, professor João Amato Neto.

O processo de transição do Brasil para uma matriz mais limpa não é recente. Além das hidrelétricas, que há anos respondem pelo maior percentual de energia elétrica do país, outras soluções estão em desenvolvimento e ganhando força.

“O país é o 4º maior produtor agrícola do mundo e isso nos dá uma ideia do potencial de bioenergia que temos, não só de biocombustíveis, mas bioeletricidade, biogás e de toda uma gama de produtos que vêm da produção agrícola e que podem contribuir para a produção energética brasileira”, afirmou o moderador do evento, Prof. Erik Rego, que tem mais de 15 anos de experiência no setor energético. Erik é diretor de Energia Elétrica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP (POLI-USP).

Ele registrou que o Brasil tem uma excelente radiação solar, o que permite a grande capacidade de plantas fotovoltaicas, uma das mais competitivas do mundo. Além de um potencial eólico, seja onshore ou offshore, que somados dão mais de duas vezes o que o país tem de capacidade instalada de todas as fontes de geração de energia. É também o segundo maior país produtor hidrelétrico e ainda pode aproveitar esses recursos com repotenciações reversíveis, além de explorar melhor esses ativos.

Os biocombustíveis foram abordados por Rubens Ometto com mais ênfase. Fundador e presidente do Conselho de Administração da Cosan, ele foi o primeiro debatedor do Fórum a fazer sua explanação: “No Brasil, com a cana de açúcar, é possível extrair muita coisa dessa planta. Pouca gente sabe, mas a energia contida em uma tonelada de cana vem, um terço, da sacarose, outro terço do bagaço  da cana e o outro das folhas”, explicou Ometto sobre o potencial da cana de açúcar e como é possível encaixá-la em uma economia circular e gestão de resíduos fundamentais para a sustentabilidade. 

Outro ponto mencionado durante o Fórum Energia e Sustentabilidade foram as iniciativas com foco em energia renovável e sustentável e como elas podem ir ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), definidos durante a Rio+20 pela Organização das Nações Unidas, em 2012, e que estipula 17 objetivos a serem cumpridos pelos países até 2030. “Desde a descoberta da fissão nuclear, as aplicações pacíficas da tecnologia nuclear têm ajudado muitos países a melhorarem a produtividade agrícola e também a garantirem um fornecimento contínuo da eletricidade”, comentou o debatedor Leonam Guimarães, presidente da Eletronuclear, além de mencionar a contribuição da energia nuclear em oito ODSs.

Guimarães deu ênfase aos benefícios ambientais da indústria nuclear em oposição à visão negativa que a sociedade desenvolveu por causa de fatores adversos do passado. Mostrou como a atividade dessa indústria promove, hoje, a redução de taxas de degradação de algumas categorias de capital natural, como a concentração de gases de efeito estufa, poluição do ar, acidificação dos oceanos e uso da terra. Além disso, reforçou o papel da atividade na universalização do acesso à energia, modicidade tarifária, segurança de abastecimento, uso de mão de obra qualificada e incremento na pesquisa científica e tecnológica.

Entretanto, para que o Brasil avance quando o assunto é energia limpa e renovável, o papel das agências reguladoras é fundamental. Segundo Arthur Barrionuevo, professor doutor de Economia da FGV-SP, em alguns setores há a tendência de se ter um monopólio natural e a agência regulatória atua diretamente em questões de como evitar o abuso do poder econômico, estimular o acesso ao serviço público e garantir condições de rentabilidade, com o objetivo de manter a oferta do serviço com a qualidade necessária.

“As regras dos governos podem facilitar ou dificultar a introdução de novas energias. Se os investidores não receberem uma taxa de retorno mínima, ao que eles entendem como adequadas e garantias jurídicas do cumprimento de contratos, eles não farão os investimentos. Mesmo com estudos mostrando que a energia solar teve uma queda de custo nos últimos 10 anos de 85%, o problema está em investimentos na área de transmissão. E esta é regulada dessa maneira, mais tradicional, tendo a regulação dos governos”, destacou Barrionuevo.

Entre os aspectos dos marcos regulatórios do setor, Barrionuevo abordou os elementos de contrato que podem gerar desequilíbrio econômico e financeiro e impactar a taxa de retorno dos investidores. Além disso, falou sobre a questão dos subsídios e do apoio necessário que os governos precisam dar aos investidores e produtores de energia limpa, como doações, juros baixos, empréstimos preferenciais e benefícios fiscais.

Para assistir ao debate sobre Energia e Sustentabilidade na íntegra, basta clicar no vídeo abaixo.

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