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Economia circular e ISO 14001: Como integrar esse conceito no sistema de gestão ambiental?

Postado em Certificação | 1 de agosto de 2025 | 10min de leitura
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Nós somos o começo, o meio e o começo”, disse Antônio Bispo dos Santos, líder quilombola, filósofo, escritor e ativista brasileiro.

Nesse pensamento de Nego Bispo, há circularidade, há continuidade. E é justamente essa lógica que precisa inspirar nossas respostas aos desafios ambientais contemporâneos, como as mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais e o acúmulo de resíduos. O modo de produzir e consumir também precisa ser circular. A economia precisa se refazer dentro do fazer.

A economia circular surge, hoje, como uma resposta estratégica e robusta aos desafios ambientais, propondo um sistema regenerativo por design, em contraste com o modelo linear de “extrair, produzir, usar e descartar”.

Nesse contexto, a ISO 14001 fortalece esse movimento ao oferecer estrutura e diretrizes que permitem às empresas adotar uma visão mais sustentável das operações.

Siga com a leitura e descubra como integrar o conceito de economia circular com as diretrizes da ISO 14001 e promover um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) mais eficiente e seguro.

O que é economia circular?

De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), economia circular é um modelo econômico que repensa a forma como produzimos, consumimos e descartamos produtos. Seu objetivo é minimizar a poluição e o desperdício de recursos naturais, promovendo o uso contínuo e sustentável das coisas que utilizamos.

Sendo assim, no lugar de um ciclo de vida breve, no qual produtos são descartados rapidamente, a economia circular transforma resíduos em novos recursos, incentivando o uso prolongado de materiais.

Economia circular x economia linear

O modelo linear de produção é aquele comum, padrão, que prioriza a extração intensiva de recursos naturais, o consumo desenfreado e a pouca circularidade de produtos. 

Os extremos do clima, a escassez de recursos, as intempéries, entre outros desafios da nossa era, são reflexos dessa economia linear não sustentável, que impulsiona a degradação ambiental e gera impactos ambientais negativos, como a poluição, o desmatamento, a emissão de gases de efeito estufa e a perda de biodiversidade.

A economia circular é o contraponto. Ela defende um ciclo fechado, no qual os produtos, materiais e recursos são mantidos em uso pelo maior tempo possível. Quando não são mais necessários, eles são recuperados e reintegrados à economia de maneira sustentável, sem que haja um descarte inadequado e exagerado.

Portanto, repensar o modus operandi é essencial para o combate à crise climática e para a conservação da vida na Terra.

Entre os princípios fundamentais da economia circular estão:

  • Eliminar resíduos e poluição por design: desde a fase de concepção de produtos e processos, a meta é evitar a geração de resíduos e a liberação de substâncias tóxicas.
  • Manter produtos e materiais em uso: prolongar a vida útil de produtos e componentes por meio de reparo, reuso, remanufatura e reciclagem, mantendo-os em ciclos de valor.
  • Regenerar sistemas naturais: retornar nutrientes biológicos à biosfera e regenerar a saúde dos ecossistemas.

O modelo de consumo hoje não se sustenta

Em 2019, o planeta Terra atingiu o ponto máximo do uso de recursos naturais, que poderiam ser renovados sem ônus ao meio ambiente, segundo estimativa da Global Footprint Network, organização pioneira em calcular a pegada ecológica, que contabiliza o quanto de recurso natural é usado para as necessidades de um indivíduo ou população.

Ou seja, desde então, todos os recursos usados para a sobrevivência (água, mineração, extração de petróleo, consumo de animais, plantio de alimentos com esgotamento do solo, entre outros pontos) entraram em uma espécie de “crédito negativo” para a humanidade.

ISO 14001: pilar da Gestão Ambiental sustentável

A ISO 14001 é uma norma internacional, que especifica os requisitos para um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) eficaz. Seu principal objetivo é ajudar as organizações a identificar, gerenciar, monitorar e controlar seus impactos ambientais.

Para isso, a estrutura da norma é baseada no ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act – ou –  Planejar-Fazer-Verificar-Agir), que é capaz de promover a melhoria contínua do desempenho ambiental.

Dessa forma, a ISO 14001 é um pilar importante da gestão ambiental, pois, ao adotá-la, as organizações sinalizam um compromisso não apenas com a conformidade regulatória, mas também com a melhoria ambiental contínua.

A norma exige que as organizações considerem o ciclo de vida de seus produtos e serviços – desde a aquisição de matérias-primas até o descarte final -, identificando seus aspectos e impactos ambientais.

É por meio dessa abordagem holística que a ISO 14001 pode ser considerada um elo crucial para a integração com os princípios da economia circular.

Como a economia circular se encaixa na ISO 14001?

Entre a economia circular e a ISO 14001 há sinergia para a sustentabilidade. Ou seja, a integração dos conceitos da economia circular no SGA, baseado na ISO 14001, não é apenas possível, mas altamente recomendada. Os requisitos da norma fornecem a estrutura perfeita para incorporar os princípios circulares. Veja só:

  • Identificação de aspectos e impactos ambientais: ao identificar e avaliar os aspectos ambientais significativos, as organizações podem aplicar a lente da Economia Circular para focar em oportunidades de redução de resíduos, otimização de recursos e design para a circularidade. Isso inclui analisar o consumo de energia, água, matérias-primas e a geração de resíduos ao longo de todo o ciclo de vida.
  • Planejamento estratégico com foco circular: a alta direção pode estabelecer objetivos e metas ambientais alinhados com a Economia Circular, como a redução do uso de materiais virgens, o aumento da taxa de reciclagem interna e a implementação de modelos de negócio circulares (e.g., aluguel de produtos, servitização).
  • Redefinição de metas e indicadores ambientais: além dos indicadores tradicionais (consumo de energia, água, resíduos), a organização pode estabelecer metas para a taxa de circularidade de materiais, o percentual de conteúdo reciclado em produtos, a vida útil de produtos e o volume de produtos recuperados pós-consumo.
  • Envolvimento da cadeia de suprimentos: a ISO 14001 incentiva o controle sobre os impactos ambientais de fornecedores e parceiros. A Economia Circular expande isso para envolver a cadeia de suprimentos na busca por materiais mais sustentáveis, o desenvolvimento de produtos que possam ser desmontados e reutilizados, e a criação de sistemas de logística reversa.

Quais os benefícios da integração entre economia circular e ISO 14001?

Ao adotar a ISO 14001, as empresas podem integrar considerações ambientais em todas as suas operações, desde a compra de matéria prima, passando pela concepção de produtos até o descarte final. Isso inclui a implementação de práticas de uso eficiente de recursos, a redução de resíduos e a promoção da reciclagem e reutilização de materiais e a adoção de demais condutas conscientes ambientalmente”, destaca Joice Elias de França, Linkedin Top Voice e Membra do Instituto Brasileiro de ESG.

Como destacou a especialista, o encontro da ISO 14001 e a economia circular gera uma série de benefícios:

  • Redução de custos e desperdícios: a otimização do uso de recursos, a minimização de resíduos e a reutilização de materiais resultam em economia significativa nos custos de matéria-prima, energia e descarte.
  • Inovação em processos e produtos: o pensamento circular estimula a inovação, levando ao desenvolvimento de novos produtos, serviços e modelos de negócio mais eficientes em termos de recursos e mais atraentes para o mercado.
  • Conformidade regulatória e competitividade: a integração fortalece a conformidade com regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas e confere uma vantagem competitiva em mercados que valorizam a sustentabilidade.
  • Engajamento de partes interessadas e fortalecimento da marca: demonstra o compromisso da organização com a sustentabilidade, melhorando a imagem corporativa, atraindo talentos e fortalecendo o relacionamento com clientes, investidores e a comunidade.

Quais exemplos práticos de integração da ISO 14001 e a economia circular?

Hoje em dia, diferentes setores já estão aplicando a economia circular em seus SGAs, baseados na ISO 14001:

  • Indústria manufatureira: empresas que redesenham produtos para facilitar a desmontagem e a reciclagem, implementam sistemas de aluguel de equipamentos ou utilizam materiais reciclados em sua produção.
  • Setor de construção: adoção de práticas de demolição seletiva para recuperar materiais, uso de agregados reciclados e desenvolvimento de edifícios modulares que podem ser desmontados e remontados.
  • Embalagens: desenvolvimento de embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis, e implementação de sistemas de logística reversa para recolha e reprocessamento.
  • Tecnologia: empresas que oferecem serviços de “produto como serviço” (e.g., iluminação, computadores), incentivando a manutenção e o retorno de equipamentos no fim da vida útil para recondicionamento.

Quais os passos rumo a uma melhoria ambiental contínua?

As organizações que pensam no presente e no futuro e que desejam embarcar nessa jornada de integração devem seguir alguns passos essenciais:

  • Diagnóstico do SGA atual: avaliar o sistema existente para identificar lacunas e oportunidades de incorporação dos princípios da Economia Circular.
  • Capacitação de equipes: treinar colaboradores em todos os níveis sobre os conceitos da Economia Circular e sua aplicação prática no dia a dia da empresa.
  • Envolvimento da alta liderança: a liderança deve ser o principal motor da mudança, definindo a visão e alocando os recursos necessários para a transição.
  • Monitoramento de indicadores circulares: estabelecer um sistema robusto de medição e acompanhamento de indicadores que reflitam o progresso da circularidade na organização.

Começo, meio e começo: a circularidade como saída

Por fim, vale ressaltar que a economia circular é o caminho para um mundo possível e pode ser incorporada de forma estratégica ao Sistema de Gestão Ambiental (SGA), baseado na ISO 14001, promovendo ganhos ambientais, econômicos e reputacionais.

Profissionais e empresas devem compreender o alinhamento entre os princípios da norma e as práticas circulares, tornando a implementação prática desses conceitos uma rotina organizacional.

Ao adotar uma abordagem sistêmica, as empresas podem transformar seus desafios ambientais em oportunidades de inovação, eficiência e diferenciação. É um chamado à ação para que os sistemas de gestão se tornem motores de inovação, impulsionando um futuro mais resiliente e próspero.

Para saber mais sobre a ISO 14001 e conquistar essa certificação, conte com a experiência e a consultoria especializada da Fundação Vanzolini. Com o suporte de nossos especialistas em gestão ambiental, você terá os melhores recursos para atuar de forma mais eficiente e segura.

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Fontes:

Economia Circular: o que é, características, importância

Economia Circular

Sobrecarga da Terra 2019: Planeta atinge esgotamento de recursos naturais mais cedo em toda a série histórica

ISO 14001:2015

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