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Desvendando a Economia Circular: como iniciar e medir essa jornada

Postado em Certificação | 29 de dezembro de 2025 | 13min de leitura
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A forma linear como nos acostumamos a produzir, conduzida pelos verbos extrair, produzir, consumir e descartar, tem se demonstrado insustentável, gerando escassez de recursos, poluição e grandes volumes de resíduos.

Como contraponto, temos a Economia Circular, que propõe um sistema regenerativo, no qual o valor dos produtos, componentes e materiais é mantido no mais alto nível possível, por mais tempo.

A Economia Circular está longe de ser apenas uma tendência, tornando-se, nos últimos anos, necessária para enfrentar a crise climática, a perda de biodiversidade e a sobrecarga dos ecossistemas.

Como aliada nesse processo está a ISO 14001, norma com foco na gestão sistemática de aspectos ambientais, que oferece o caminho para que as empresas integrem os princípios da circularidade em suas operações, resultando em benefícios ambientais, sociais e econômicos.

Quer saber como acontece a sinergia entre a ISO 14001 e a Economia Circular? Então siga com a leitura!

O que é Economia Circular?

De acordo com o manual “ECONOMIA CIRCULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA“, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o conceito de Economia Circular tem origem em diversas escolas e linhas de pensamento, que construíram a base para o debate sobre desenvolvimento sustentável, tais como:

  • Ecologia Industrial;
  • Gestão do Ciclo de Vida;
  • Economia de Performance.

De forma geral, podemos entender a Economia Circular como um conceito que busca transformar a tradicional abordagem econômica, priorizando a reutilização, reciclagem e redução do desperdício de recursos.

Na figura a seguir, temos, de forma resumida, os princípios e processos circulares em dois ciclos: os biológicos e os tecnológicos. Esses ciclos agregam valor à lógica econômica linear, que é representada pelo centro do diagrama.

Portanto, a Economia Circular pode ser compreendida como um sistema econômico que visa a eliminação de resíduos e de poluição desde a concepção, a manutenção de produtos e materiais em uso e a regeneração de sistemas naturais.

Diferente do modelo linear, que tem um fim de vida para os produtos, a Economia Circular busca fechar os ciclos de materiais, imitando os processos da natureza.

Principais políticas públicas e regulamentações relacionadas à economia circular

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Brasil

Lançada em 2010, a PNRS representa um divisor de águas na gestão de resíduos no Brasil. Ela estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Ou seja, fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos são corresponsáveis.

A política prioriza a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, com a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

A logística reversa, um pilar fundamental da Economia Circular, é incentivada para embalagens, eletroeletrônicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, entre outros.

Diretivas da União Europeia sobre Economia Circular

O “Plano de Ação para a Economia Circular”, da UE, (Circular Economy Action Plan – CEAP),, visa impulsionar a transição da Europa para um modelo mais circular, focado em setores-chave como eletrônicos, baterias, embalagens, plásticos, têxteis e construção.

As diretivas estabelecem metas ambiciosas para a redução de resíduos, aumento da reciclagem e reutilização, além de promover a durabilidade, reparabilidade e reciclabilidade dos produtos.

A legislação da UE também abrange o ecodesign, que exige que os produtos sejam projetados para serem mais eficientes em termos de recursos e para gerar menos resíduos.

Compromissos Globais de Sustentabilidade (ODS da ONU)

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, estabelecidos na Agenda 2030, fornecem um plano abrangente para a sustentabilidade global. Vários ODS estão diretamente relacionados à Economia Circular, como:

– ODS 12: Consumo e Produção Responsáveis: este ODS visa assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis, o que está intrinsecamente ligado à Economia Circular, que busca desacoplar o crescimento econômico do uso de recursos finitos;

– ODS 8: Trabalho Decente e Crescimento Econômico: a Economia Circular pode criar novas oportunidades de negócios e empregos verdes, contribuindo para um crescimento econômico mais inclusivo e sustentável;

– ODS 11: Cidades e Comunidades Sustentáveis: a gestão eficiente de resíduos e o uso de recursos em áreas urbanas são cruciais para a construção de cidades mais sustentáveis;

– ODS 13: Ação Contra a Mudança Global do Clima: ao reduzir a extração de recursos virgens e a geração de resíduos, a Economia Circular contribui significativamente para a mitigação das mudanças climáticas.

Como a legislação impulsiona as empresas no aspecto sustentável?

A legislação e os compromissos internacionais exercem uma pressão crescente sobre as empresas, levando-as a repensar seus processos e modelos de negócio, para atividades mais conscientes e alinhadas às atuais demandas sociais e ambientais.

  • Minimização de riscos legais e reputacionais: o não cumprimento das regulamentações pode resultar em multas pesadas, sanções legais e danos significativos à reputação da empresa. Adotar práticas circulares ajuda a mitigar esses riscos;
  • Acesso a novos mercados e clientes: consumidores e investidores estão cada vez mais conscientes e exigem produtos e serviços sustentáveis. Empresas com bom desempenho em sustentabilidade podem acessar novos mercados e atrair uma base de clientes mais engajada;
  • Inovação e eficiência de recursos: a necessidade de cumprir regulamentações estimula a inovação em produtos, processos e modelos de negócio. Isso pode levar à otimização do uso de recursos, redução de custos e criação de novos fluxos de receita, a partir de materiais antes descartados;
  • Vantagem competitiva: empresas que se adaptam prontamente às exigências da economia circular podem ganhar uma vantagem competitiva, posicionando-se como líderes em sustentabilidade e inovação;
  • Atração de investimentos sustentáveis: fundos de investimento e bancos estão cada vez mais direcionando capital para empresas que demonstram forte compromisso com a sustentabilidade e práticas ESG (Ambiental, Social e Governança);
  • Licença social para operar: em muitas comunidades, a aceitação pública das operações de uma empresa depende de suas práticas ambientais e sociais responsáveis. A economia circular reforça essa “licença social”.

Os dados soam como alarmes de emergência

O modelo econômico atual e linear de produção-consumo-descarte está atingindo seu limite.

O desperdício de materiais recicláveis representa uma perda financeira expressiva em escala global. Um estudo da Boston Consulting Group (BCG) revelou que, todo ano, cerca de R$ 1,2 trilhão de reais são desperdiçados no mundo todo, em razão do descarte inadequado de materiais que poderiam ser reaproveitados.

Ainda de acordo com a CNI, nos últimos trinta anos, apesar dos avanços tecnológicos e do aumento da produtividade dos processos que extraem 40% mais valor econômico das matérias-primas, a demanda nesse mesmo período aumentou 150%.

Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos, produzido pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o Brasil gerou mais de 80 milhões de toneladas de lixo em 2022.

A adoção da Economia Circular é um dos um dos caminhos para o enfrentamento desse problema, pois “associa o crescimento econômico a um ciclo de desenvolvimento positivo contínuo, que preserva e aprimora o capital natural, otimiza a produção de recursos e minimiza riscos sistêmicos, com a administração de estoques finitos e fluxos renováveis”.

Quais os indicadores e métricas para de circularidade?

Para acompanhar o progresso em direção à Economia Circular e à sustentabilidade, é crucial o monitoramento contínuo de indicadores-chave de desempenho.

Esses indicadores fornecem uma base quantificável para avaliar a eficácia das estratégias implementadas, além de identificar as áreas para melhoria. Entre os mais relevantes, podemos destacar:

Taxa de reaproveitamento de materiais

Este indicador mede a proporção de materiais que são reintegrados no processo produtivo após seu uso inicial, em vez de serem descartados. Um aumento nessa taxa demonstra uma transição bem-sucedida de um modelo linear para um circular, no qual os resíduos são vistos como recursos;

Redução da pegada de carbono

A pegada de carbono quantifica a emissão total de gases de efeito estufa (GEE) associados às atividades de uma organização ou ao ciclo de vida de um produto. Acompanhar sua redução é fundamental para avaliar o impacto ambiental e o alinhamento com metas climáticas, refletindo a eficiência energética e a adoção de fontes de energia renováveis;

Percentual de materiais reciclados no processo produtivo

Indicador que foca na incorporação de materiais provenientes de processos de reciclagem na fabricação de novos produtos. Um alto percentual indica um compromisso robusto com a Economia Circular, reduzindo a dependência de matérias-primas virgens e minimizando a geração de resíduos.

Além desses, outros indicadores complementares podem ser utilizados para uma análise mais completa, como:

  • Geração de resíduos por unidade de produto: permite avaliar a eficiência do processo produtivo na minimização de descartes;
  • Consumo de água por unidade de produto: monitora o uso consciente de recursos hídricos;
  • Durabilidade e vida útil dos produtos: avalia a capacidade dos produtos de permanecerem em uso por mais tempo, reduzindo a necessidade de substituição;
  • Investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos circulares: indica o compromisso com a inovação para a sustentabilidade;
  • Número de parceiras para economia circular: demonstra a colaboração e o fortalecimento da cadeia de valor sustentável.

Tecnologias emergentes e Economia Circular

Tecnologia e Economia Circular podem e devem andar juntas. Uma coisa não exclui a outra e as duas somam forças de transformação.

A integração de tecnologias emergentes como Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e blockchain impulsiona a Economia Circular, e as ferramentas oferecem um suporte robusto para a rastreabilidade de materiais, otimização de processos e o desenvolvimento de modelos de negócio circulares inovadores.

  • Inteligência Artificial (IA): a IA pode ser aplicada na análise de grandes volumes de dados para prever a vida útil de produtos, otimizar rotas de coleta e reciclagem e identificar padrões de consumo que permitam aprimorar o design de produtos para circularidade.

Além disso, a IA pode facilitar a automação de processos de triagem e separação de resíduos, aumentando a eficiência e a qualidade dos materiais recuperados.

Internet das Coisas (IoT): sensores IoT podem monitorar, em tempo real, a condição e a localização de produtos e componentes ao longo de toda a cadeia de valor. Isso permite uma gestão mais eficiente de ativos, facilitando a manutenção preventiva, o reuso e a recuperação de materiais.

Em um modelo de “produto como serviço”, por exemplo, a IoT é essencial para acompanhar o desempenho e planejar a devolução e recondicionamento dos itens.

Blockchain: a tecnologia blockchain oferece um registro imutável e transparente de todas as transações e movimentos de materiais. Isso garante a autenticidade e a origem dos produtos reciclados ou recondicionados, combate à falsificação e promove a confiança entre os participantes da cadeia de valor.

A rastreabilidade provida pelo blockchain é crucial para verificar as credenciais de sustentabilidade e para a implementação de esquemas de responsabilidade estendida do produtor.

Quais as boas práticas que a Economia Circular pode gerar na indústria?

A implementação da Economia Circular pode se materializar em diversas ações práticas, favorecendo a indústria e o meio ambiente, tais como:

  • Logística reversa: estruturar sistemas para o retorno de produtos pós-consumo ou pós-industriais para reuso, reciclagem ou descarte adequado;
  • Remanufatura: restaurar produtos usados às condições de um produto novo, com garantia de desempenho e qualidade;
  • Ecodesign: projetar produtos pensando em todo o seu ciclo de vida, desde a escolha de materiais de baixo impacto ambiental até a facilidade de desmontagem, reparo e reciclagem;
  • Uso de matérias-primas recicladas e renováveis: priorizar insumos que reduzam a dependência de recursos virgens e minimizem a pegada ambiental;
  • Servitização: migrar de um modelo de venda de produtos para um modelo de serviço, onde o produto é alugado ou compartilhado, incentivando a manutenção e o reuso.

Como iniciar a jornada da economia circular?

Para começar a jornada da economia circular, destacamos algumas práticas essenciais, que são o ponto de partida para uma mudança cultural e organizacional.

  • Identifique oportunidades: avalie sua cadeia de suprimentos para encontrar chances de implementar a economia circular, como o uso de materiais reciclados, a redução do consumo de recursos naturais e a otimização dos processos produtivos;
  • Design para circularidade: desenvolva produtos e embalagens duráveis e que possam ser facilmente reciclados. Ofereça também serviços de reparo, remanufatura e reutilização para prolongar a vida útil dos itens;
  • Adote a economia de compartilhamento: explore a possibilidade de oferecer serviços de compartilhamento (por exemplo, veículos, equipamentos, espaços de trabalho) para maximizar a utilização dos ativos e minimizar o desperdício;
  • Fomente parcerias estratégicas: colabore com outras empresas, organizações e órgãos governamentais para juntos identificar oportunidades e desenvolver programas e iniciativas que promovam a economia circular;
  • Invista em tecnologia: considere aplicar recursos em tecnologias que impulsionam a economia circular, como métodos avançados de reciclagem e remanufatura, além de outros citados acima;
  • Engaje as partes interessadas: inclua colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade em geral nos seus esforços pela economia circular. Uma comunicação clara e transparente é essencial para construir confiança e lealdade.

No caso das empresas que contam com a ISO 14001, a norma pode ser uma facilitadora poderosa para a implementação das práticas e transição para Economia Circular, permitindo que as empresas reduzam o desperdício, otimizem o uso de recursos e criem valor a longo prazo, além de promover inovação, resiliência e crescimento sustentável.

A Fundação Vanzolini como parceira para capacitação e formação em sustentabilidade

A Fundação Vanzolini possui expertise em normas e oferece um leque de serviços e cursos especializados em sustentabilidade e certificações ambientais.

Explore nossas soluções e descubra como podemos auxiliar sua organização a implementar a economia circular de forma eficaz, além de obter as certificações necessárias para demonstrar seu compromisso com a gestão ambiental responsável.

Para mais informações sobre certificações da Fundação Vanzolini:

certific@vanzolini.org.br
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Agendamento e Planejamento
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(11) 9 6476-1498 

Fontes:

6 a cada 10 indústrias no Brasil adotam práticas de economia circular

Brasil gerou 64 quilos de resíduos plásticos por pessoa em 2022

Economia circular pode gerar 7 milhões de empregos no Brasil

ECONOMIA CIRCULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA

Como aplicar o conceito de economia circular ao seu negócio

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