Fundação Vanzolini

A transformação digital chegou ao universo da educação. E agora?

Postado em Soluções | 13 de outubro de 2022 | 5min de leitura
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É preciso rever paradigmas, repensar a formação dos profissionais da educação e superar problemas sociais.

Foi do dia para a noite. O que era para ser aprendido dentro de instituições de ensino passou a ser ensinado a distância. Ensino mediado por tecnologia, telas no lugar de lousas, aulas online e materiais didáticos armazenados em nuvens.

A transformação digital, acelerada pela pandemia do novo coronavírus, impactou radicalmente as formas de conviver, trabalhar, estudar e ter acesso aos conhecimentos. E agora obriga, especialmente a Educação Básica, a enfrentar um de seus grandes paradigmas: superar o “quando” para o “como” integrar as tecnologias ao ambiente de ensino.

E essa integração não passa apenas por questões de infraestrutura, mas diz respeito a projetos pedagógicos, desenvolvimento profissional e, acima de tudo, superação de problemas sociais.

“A pandemia ajudou a vencer barreiras e possibilitou familiaridade com a tecnologia – o que, sem dúvida, contribuiu para o desenvolvimento profissional de docentes nesta área. No entanto, isso se deu de forma muito desigual no país, acirrando as desigualdades educacionais já existentes”, comenta Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec.

Segundo o IBGE, 90% dos alunos da rede privada tiveram acesso a equipamentos e internet no período da pandemia, enquanto apenas 30% dos alunos da rede pública tiveram esse direito garantido.

Anna ressalta que estudantes e professores vivenciaram uma prova de fogo no que diz respeito ao ensino remoto. Enquanto uma parcela dos docentes recebeu apoio de redes e sistemas de ensino, outros foram deixados à própria sorte.

Desigualdade

Como proporcionar experiências inovadoras de ensino quando a desigualdade bate à porta? O primeiro passo é entender que o uso da tecnologia não está limitado ao acesso à internet e a recursos audiovisuais.

Para fomentar a integração, especialmente nas escolas mais vulneráveis, os professores podem utilizar recursos mais acessíveis.

A pesquisadora Cássia Fernandes, do TLTL Lab (Transformative Learning Technologies Lab), da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, conta que “recentemente a gente desenvolveu uma sequência didática sobre luz e cores, alinhadas à BNCC, na qual os estudantes investigavam como as cores se misturam usando LED, que são materiais baratos”, um exemplo do que pode ser planejado.

Planejamento é um ponto central na discussão do “como integrar”. Fernandes também chama atenção para a necessidade de a tecnologia ter uma intencionalidade ao ser aplicada em sala de aula.
“Existem algumas concepções sobre o uso da tecnologia para tornar as aulas mais lúdicas, divertidas e para por aí. Um ponto importante é considerar como ela pode ajudar – se é que pode – a atingir os objetivos de aprendizagem”, comenta.

Em linha com a pesquisadora, Beatriz Scavazza, coordenadora-executiva da área de Gestão de Tecnologia em Educação (GTE), da Fundação Vanzolini, pontua que esse processo é complexo e multifacetado para quem ensina e para quem aprende.

“A questão não é “digitalizar o ensino”, mas pensar as aprendizagens com a mediação das tecnologias, reinventar os processos educacionais, considerando que as novas tecnologias geram transformações culturais que permeiam nossas vidas e transformam nossas possibilidades de compreensão e atuação no mundo.”

Há mais de 20 anos, a GTE apoia iniciativas de formação de profissionais da rede pública de ensino, democratizando o conhecimento por meio da tecnologia, e impactando milhares de educadoras e educadores em todo o país.

Formação da equipe escolar

Como a escola não está apartada desse mundo em transformação, as equipes docentes têm a responsabilidade de intervir no contexto educacional para que os estudantes desenvolvam, cada vez mais, a capacidade de criação e expressão, de crítica, de acesso ao conhecimento e aos serviços que lhes permitam ampliar as condições de exercício da cidadania e combate à desigualdade.

Nesse sentido, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação são um meio que pode ser mobilizado a serviço das aprendizagens, da comunicação, da construção de coletivos, da publicização do conhecimento, do convívio com as diferenças, das ações em larga escala que articulam o território com o contexto.

Para auxiliar professoras e professores neste momento, Anna Helena, do Cenpec, comenta que “a gestão escolar, assim como a gestão da Secretaria, tem papel fundamental. Não se pode esperar que os professores sozinhos deem conta do enorme desafio”.

Além de garantir a infraestrutura e a formação continuada dos profissionais, ela também recomenda “tempo e espaço para que professores e professoras possam compartilhar ideias, reflexões, achados, dúvidas e impasses. Ou seja, fomentar a construção coletiva e colaborativa de conhecimentos sobre o uso das tecnologias no processo educativo”.

Tudo isso com um objetivo: garantir uma formação de qualidade e alinhada aos novos tempos, como lembra a coordenadora-executiva da GTE: “Educar é ampliar a possibilidade de que os estudantes adquiram os saberes e as ferramentas necessárias para compreender e participar do esforço de transformar essa realidade”.

Habilidades e saberes

Para que os profissionais da educação possam lidar com os desafios deste mundo em acelerada transformação, pesquisadores indicam como habilidades e saberes:

• Capacidade de colaborar e cocriar com outros colegas de profissão;
• Disposição para aprender coisas novas e agregar novos conhecimentos à sua prática;
• Curiosidade para pesquisar e se inspirar a partir de outras experiências;
• Escuta ativa para as dúvidas e anseios dos estudantes;
• Acolhimento para receber a diversidade.

Nos novos tempos: “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, consagra o pensador Paulo Freire.