Fundação Vanzolini

A Fundação Vanzolini é parceira acadêmica da primeira IC² – Conferência Internacional sobre Teoria e Prática de Cidades Inteligentes e anuncia a chamada de artigos. Acadêmicos e profissionais são bem-vindos a participar.

Os artigos, com até 5 páginas, serão revisados por especialistas e os aceitos serão publicados nos anais da conferência. As datas importantes são:

Os temas incluem Tecnologia e Infraestrutura, Energia e Sustentabilidade, Governança e Transformação Digital, Qualidade de Vida, Saúde, Educação e Segurança. A conferência oferece palestras, networking, painéis, workshops e a oportunidade de publicar artigos nos anais.

A Conferência IC² é uma excelente oportunidade para conhecer e conviver. Aproveite e participe do grande evento do setor na América Latina e:

Saiba mais aqui sobre a IC²

Para mais informações, contate ic2@scbamerica.com

Para que as cidades sejam consideradas inteligentes elas precisam se valer de diferentes políticas públicas, entre elas as que utilizam a tecnologia da informação e comunicação (TICs) e a inovação para melhorar a qualidade dos serviços oferecidos e tornar a vida nas cidades menos desigual, mais simples e sustentável. Este será o tema do webinar gratuito que a Fundação Vanzolini (FCAV) realizará no dia 9 de setembro, às 19h.

Participarão do webinar o consultor da Fundação, Daniel Annenberg, um dos idealizadores do Poupatempo, ex-diretor-presidente do Detran-SP e ex-secretário da Prefeitura de São Paulo de Inovação e Tecnologia, e Marianna Sampaio, que é analista de políticas públicas e gestão governamental licenciada da Prefeitura de São Paulo e foi secretária-adjunta de Inovação e Tecnologia e de Negócios Jurídicos na cidade.

“Para que as iniciativas de cidade inteligente e humanas melhorem a vida das pessoas, é fundamental que conheçamos a fundo a realidade das nossas cidades, que não são todas iguais”, comenta Daniel Annenberg.

Há alguns exemplos de boas práticas no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, o Empreenda Fácil otimizou o tempo de abertura e fechamento de empresas de baixo risco. O DescomplicaSP e a central de atendimento SP156 melhoraram o atendimento ao cidadão, seguindo o emblemático exemplo do Poupatempo.

Parte do evento será destinada a tirar dúvidas sobre o curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas, que começa no dia 5 de outubro. No formato EaD ao vivo, o programa tem carga horária de 38 horas e acontece das 19 às 21 horas. Além da parte teórica e apresentação de cases, o curso permitirá, por meio de oficinas, que os alunos pensem em estratégias de cidade inteligente que façam sentido em seus respectivos contextos profissionais.

Para participar do webinar, clique aqui.

A tecnologia 5G no Brasil promete mudanças promissoras no que se diz respeito às cidades inteligentes. Além de aumentar a velocidade da navegação, ela tem um alcance bem maior se comparado com as tecnologias 3G e 4G, facilitando assim a integração de serviços nos municípios. Entretanto, para que esse recurso seja disponibilizado há uma série de barreiras, como o leilão que decidirá qual operadora ficará responsável pela atuação em cada região do Brasil e a instalação de torres e antenas nas cidades.

Para debater o assunto, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e a Fundação Carlos Alberto Vanzolini (FCAV) promovem, no dia 24 de setembro, o webinar Cidades inteligentes e humanas: Desafios e caminhos da gestão municipal.

O encontro irá discutir como os municípios podem ter uma legislação mais moderna, com menos entraves para o licenciamento. Cidades como Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Brasília (DF) e Santo André (SP) já aderiram à Lei Geral das Antenas, de 2015 (Lei 13.116/15), aprovando nas câmaras municipais leis específicas para a instalação dos equipamentos.

Para falar sobre a experiência de Santo André – e que pode servir de exemplo para outras cidades – vão participar Pedro Seno, Secretário de Gestão Financeira e Coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica do município e Marcos Godinho, Diretor Geral do Parque Tecnológico, unidade da Secretaria de Desenvolvimento e Geração de Emprego da cidade do ABC paulista.

Representando o Governo Federal, o convidado é Eduardo Amaral, Coordenador Geral de Telecom do Ministério da Economia. Especialista em Regulação da Agência Nacional de Telecomunicações, Amaral irá traçar um panorama sobre o 5G no país, o que já foi feito e o que falta ser implementado para que os municípios ofereçam tecnologia de qualidade aos cidadãos.

A mediação será do Prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis, que também é presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas e vice-presidente de Telecomunicações da FNP; e do consultor da FCAV e ex-Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo, Daniel Annenberg.

Depois das explanações, os participantes poderão fazer perguntas e debater com os convidados. O webinar será transmitido ao vivo pelo YouTube da Fundação Vanzolini.

Para se inscrever, clique aqui.

De 1º a 3 de setembro acontece a 7ª edição do Connected Smart Cities & Mobility no Centro de Exposições Frei Caneca, em São Paulo, que reúne mais de 300 especialistas divididos em 75 painéis para discutir cidades inteligentes. Amanhã (3), a Fundação Vanzolini será representada por Daniel Annenberg, consultor da Fundação e professor do curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas.

Ao lado de nomes como Oswaldo Sanchez Junior, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo; Tullio Ponzi, Secretário Executivo de Inovação Urbana da Secretaria Executiva de Inovação Urbana da Prefeitura de Recife; Antonio Carvalho, Secretário de Governança da Prefeitura de Maceió; e Elias de Souza, Sócio – Deloitte, Daniel Annenberg compõe a mesa que discutirá sobre Cidades Resilientes, e abordará temas dentro dos eixos de Educação, Segurança e Saúde, como: Soluções para Moradia em Cidades Inclusivas; Inclusão Digital como Fator de Desenvolvimento nas Cidades, e Planejamento das Cidades com Foco na Inclusão.

Você conhece o conceito de Cidades Resilientes? Ele diz respeito ao gerenciamento e à conservação do ambiente urbano – incluindo o Patrimônio Cultural –, de maneira que a vida humana seja possível e sustentável em toda sua plenitude.

Uma cidade resiliente é um ambiente preparado para sobreviver a diversos tipos de eventos ou mudanças.

Na prática, refere-se a criar meios para utilizar ferramentas e tecnologias com o objetivo de alcançar o bom funcionamento de um ambiente urbano, levando em consideração o patrimônio cultural e histórico das cidades, assim como as formas de restaurá-los, monitorá-los e conservá-los.

Para sabermos mais sobre o assunto, entrevistamos César Massaro, professor do curso gratuito Cidades Resilientes: Técnicas de Documentação, Proteção e Recuperação do Patrimônio Urbano, promovido pela Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fundação Vanzolini.

Quais são os pontos de destaque nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, no contexto de Cidades Inteligentes e Sustentáveis?

Professor César Massaro: Os pontos de destaque são diversos, temos: 1- Erradicação da pobreza; 3- Saúde e bem-estar; 6- Água potável e saneamento; 7 – Energia limpa e acessível; 8- Trabalho decente e crescimento econômico; 9- Indústria, inovação e infraestrutura; 10- Redução das desigualdades; 12- Consumo e produção responsáveis e 13- Ação contra mudanças globais no clima. Todos esses objetivos dizem respeito a criar uma cidade sustentável, sempre alinhada com qualidade de vida.

Ou seja, onde se pode viver, trabalhar e desfrutar nas esferas societárias, socioeconômicas e ambientais.

Para isso, deve-se criar cidades inteligentes e digitais, capazes de atender às necessidades da população e estarem precavidas em caso de eventos, internos ou externos, que atrapalhem seu funcionamento.

Quais são as dimensões de Resiliência Urbana?

Massaro: Uma cidade resiliente é uma cidade robusta. Ou seja, é um ambiente que, por meio de planejamento, indicadores, dados e uso de tecnologias adequadas, está preparado para sobreviver a diversos tipos de eventos ou mudanças.

Esses eventos podem ser desastres naturais, como terremotos, ondas de calor, ondas de frio, inundações ou então causados pelo homem, como guerras, por exemplo.

Como projetos envolvendo planejamento urbano, automação de sistemas da cidade, Big Data e as Cidades Conectadas, Sistemas de IoT – Internet of Things (Internet das Coisa) podem melhorar e ajudar a supervisão do funcionamento e operação dos sistemas que compõem uma cidade?

Massaro: Devemos considerar, primeiramente, que uma cidade inteligente é mais do que uma cidade digital.

Ou seja, ela precisa da transformação digital e de todas as ferramentas que você mencionou, no entanto, de nada adianta utilizar Big Data, se os dados captados não estiverem disponíveis para melhorar a interação das pessoas com as cidades para, por exemplo, poupar tempo no transporte.

Outro exemplo: Identificar a necessidade real de um poste de luz permanecer, ou não, aceso. Assim, deve-se direcionar todas as ferramentas disponíveis de forma a melhorar a eficiência das cidades em aspectos importantes, como iluminação, segurança, mobilidade etc.

Para isso, tanto o poder público como o privado devem tirar proveito dessas tecnologias de modo que seja possível manejar a infraestrutura urbana, mantendo seu funcionamento, continuidade e a protegendo de eventos extremos, como disse na pergunta anterior.

Qual a relação entre resiliência e sustentabilidade e qual sua importância para as cidades?

Massaro: Quando pensamos em sustentabilidade, sempre vamos considerar o longo prazo. Ou seja, a cidade é o lugar que temos para morar, dessa forma, temos sempre que evitar situações predatórias, pois se destruirmos o que temos nos ambientes urbanos, não teremos para onde ir.

Por outro lado, temos que procurar incorporar inteligência, tecnologias, processos e ferramentas, de forma a termos conhecimento para ir cada vez mais longe em nossas cidades ou comunidades. Com isso, é possível mitigar riscos ambientais e socioeconômicos, estando protegidos caso eles venham, de fato, a ocorrer.

Qual a importância do patrimônio urbano, histórico e cultural?

Massaro: As cidades são ambientes que habitamos, trabalhamos e desfrutamos. Dessa forma, o lazer, o entretenimento e a cultura são fundamentais, seja para a vida cotidiana e atividades sociais, ou mesmo de forma profissional, o patrimônio urbano é importante para todos esses aspectos.

Assim, a decisão de investir na restauração de um patrimônio desse tipo deve ser coletiva e envolver também a população. Por exemplo, quando houve o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ou então o deslizamento e destruição do Solar Baeta Neves, em Ribeirão Preto.

A partir de um acontecimento desse tipo, devemos nos perguntar: vale a pena o restauro? E, para responder essa pergunta, devemos considerar o que aquele patrimônio significa culturalmente e historicamente, bem como sua importância arquitetônica. Também devemos avaliar o investimento necessário e possíveis riscos ao realizar uma obra desse tipo.

No caso do Solar Baeta Neves, o risco de deslizamento já era conhecido, tanto que o lugar estava fechado e isolado há algum tempo. No entanto, evitar que pessoas circulassem pelo local foi a única medida tomada, o que, na minha opinião, não foi correto.

Ou seja, não houve mortos ou feridos, mas todo o ambiente foi perdido. A discussão de preservar, recuperar ou restaurar um local urbano, seja ele uma praça, um museu ou até uma árvore, deve ser debatida publicamente, entre as pessoas que habitam ou desfrutam da cidade e esse debate deve valer-se das informações que disse anteriormente.

Qual é a contribuição do GIS (Sistema de Informação Geográfica) para a gestão urbana?

Massaro: O GIS é muito importante para a gestão urbana, trata-se de uma visualização territorial da cidade, a partir de seus mapas temáticos. Esses mapas podem ser saúde, educação, vias, sistemas de transporte, infraestrutura, localização dos edifícios etc.

Assim, o GIS é uma ferramenta bastante poderosa, pois aumenta a produção, disponibilidade e processamento de dados. Esses dados podem ser acessados por um smartphone, computador ou, então, por portais como o GeoSampa, dessa forma, pode-se realizar estudos, análises ou simplesmente consultas com base nessas informações.

Sendo assim, com base nas informações, processamento de dados e ferramentas disponíveis, é possível orientar o poder público e o poder privado na relação do ambiente urbano com a população em geral.

Fale sobre aspectos estruturais de intervenção de edifícios históricos?

Massaro: Com relação a edifícios históricos, a intenção deve ser protegê-los e utilizá-los, sempre considerando os riscos. Por exemplo, a Torre de Pisa, que existe há 848 anos, seu charme é o fato dela ser inclinada e ninguém cogita endireitá-la.

Ao mesmo tempo, ninguém quer vê-la cair e isso demanda um trabalho sistemático de engenharia e arquitetura para protegê-la e sustentá-la.

Para isso, é preciso documentar suas condições estruturais, de solo, de vento e como a torre se comporta perante essas variáveis. Também são elaborados modelos para gerenciar essas circunstâncias.

Por outro lado, temos também a questão dos reforços e da adaptação das estruturas históricas a novas tecnologias, de forma a proteger esses locais de eventos adversos, como sismos, inundações, maremotos etc.

E isso passa por criar um bom projeto e uma boa execução, de forma a poder contar com uma boa estrutura e análises estruturais, visando considerar e mitigar os riscos das funcionalidades e características de um edifício serem abaladas por algum tipo de evento.

Fale sobre a documentação e digitalização de patrimônio urbano, histórico e cultural

Massaro: São aspectos importantes para saber quais são as informações de projeto, o que foi executado, como está sendo feita a operação, a manutenção dos equipamentos, quais tipos de materiais foram utilizados, qual o tipo de estrutura vigente e os tipos de instalações.

Isso tudo para saber quais reparos devem ser feitos, substituições, manutenções e uma operação correta, em geral, de modo a preservar o edifício no longo prazo, orientar modernizações que sejam adequadas funcionalmente, bem como a documentação de todos esses processos.

Com a transformação digital, temos diversas ferramentas para gerar os arquivos necessários para a caracterização do patrimônio em questão, bem como contar com uma “guarda inteligente” dessas informações, que podem ser armazenadas em banco de dados, sistemas de geoprocessamento ou sistemas de informações para construção e podem ser utilizadas para gerenciar um projeto, guardar informações e para uso operacional.

No caso de haver algum tipo de falha no processo, utiliza-se essas informações da maneira mais adequada possível, seja para recuperação ou outras questões. Como exemplo, temos o afundamento do viaduto da Marginal Pinheiros, há alguns anos. Esse fato surpreendeu a prefeitura e os usuários, pois esse tipo de informação era inexistente.

Por sorte, alguns engenheiros e projetistas do viaduto original ainda estavam disponíveis para trabalhar e ajudaram no resgate dessas informações, disponibilizando-as e, com isso, foi possível acelerar o processo de recuperação da infraestrutura do viaduto.

Ou seja, existe toda uma questão da captura e processamento dos dados, tanto para documentação, a partir da digitalização, quanto para monitorar todos os ativos urbanos, sejam eles uma infraestrutura física, a qualidade de um asfalto, uma rede de telecomunicação, uma rede de distribuição de energia etc.

Novamente, isso é necessário tanto para monitoramento quanto para restauração, em caso de algum tipo de acidente.

Conte-nos sobre o restauro do Museu Paulista (Ipiranga) e do Monumento da Independência, a partir do emprego de técnicas e abordagens em projetos de resiliência urbana?

Massaro: O Museu do Ipiranga estava, relativamente, abandonado, mas não estava destruído como alguns dos exemplos que citei. No entanto, teve que passar por uma série de reformas, primeiramente para a recuperação de sua área (que estava fechada) e também para uma modernização funcional.

Esse museu faz parte do acervo da USP e o Monumento da Independência pertence à Prefeitura de São Paulo, dessa forma, foi feito um projeto em conjunto para o restauro de ambos, com o objetivo de requalificá-los e modernizá-los funcionalmente, bem como recuperar todos os seus aspectos.

Para isso, foi feito um projeto de digitalização, contando com o trabalho integrado de arquitetos e engenheiros, tanto para o prédio do museu, como para o monumento. Além disso, houve também um projeto estrutural, de contenção e proteção do edifício, suas fundações e estruturas, tanto para preservação das condições atuais, como para um reforço do novo ciclo funcional do patrimônio.

Todas essas estruturas não sofreram com nenhum tipo de evento, como um desastre natural, no entanto estavam abandonadas e precisavam de um plano de reformas e isso foi feito. Porém, boa parte das técnicas aplicadas são também utilizadas quando existem riscos de desastres, ou quando eles de fato ocorrem, e falaremos mais sobre essas semelhanças no curso.

Conseguiu ter uma visão mais clara do que é uma Cidade Resiliente, inteligente e sustentável? Se você quer aprender ainda mais sobre o assunto, inscreva-se no curso gratuito Cidades Resilientes: Técnicas de Documentação, Proteção e Recuperação do Patrimônio Urbano, promovido pela Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fundação Vanzolini.

Até mais!

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Por Daniel Annenberg e Marianna Sampaio

As medidas de distanciamento social adotadas para impedir o avanço do coronavírus evidenciaram a importância do uso de tecnologias digitais pelo Estado e pelos cidadãos e cidadãs. Temos debatido mais sobre proteção de dados, transformação digital do Estado, cidadania e democracia virtuais, educação à distância, inovação social e meio ambiente – temas importantes para imaginarmos, democraticamente, novos modos de organização da vida coletiva. Hoje proponho uma reflexão sobre as relações entre desigualdades socioeconômicas e desigualdades digitais, tema importante para o presente e futuro das cidades.

Cada vez mais as oportunidades de emprego, os serviços básicos e as políticas públicas utilizam tecnologias digitais. Isso exige que os cidadãos e as cidadãs estejam aptos a utilizá-las no trabalho, no seu cotidiano e ao se relacionar com o Poder Público. Nesse cenário, três fatores constituem as desigualdades digitais: (i) acesso, (ii) habilidade e (iii) tipos de uso da internet e tecnologia dos diferentes grupos e setores sociais. A desigualdade de acesso ocorre quando os indivíduos não têm as mesmas condições para obter dispositivos digitais e conexão à internet. A desigualdade de habilidade diz respeito às distintas habilidades dos indivíduos para utilizar tecnologia digital em seu cotidiano. Por fim, as diferentes formas como indivíduos usam e se apropriam da internet e da tecnologia podem trazer benefícios como conexão social, solidariedade e engajamento cívico, por exemplo, ou prejuízos, como desinformação, fraudes e riscos ao direito à privacidade.

Essas três dimensões que compõem a desigualdade digital são afetadas pelas desigualdades socioeconômicas: estudos apontam que características como idade, renda, escolaridade, gênero e raça afetam as condições de acesso, as habilidades e os resultados do uso de tecnologia entre diferentes grupos sociais. A escolha do governo federal de usar um aplicativo para entregar o auxílio emergencial expôs que a população socialmente vulnerável é também desprivilegiada do ponto de vista do acesso, das habilidades e dos tipos de uso que faz da tecnologia. Não faltaram notícias sobre pessoas que foram alvo de fraudes e vivenciaram dificuldades para solicitar o auxílio emergencial.

Isso porque as desigualdades sociais e econômicas são reproduzidas digitalmente. Estudiosos da Universidade de Northeastern e do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, identificaram que o algoritmos do Facebook direcionam anúncios de casas à venda de forma desigual a usuários brancos e negros. O algoritmo é enviesado racialmente e reproduz digitalmente a prática de corretores de imóveis, que, em algumas regiões dos Estados Unidos, mostram às pessoas brancas casas em bairros majoritariamente brancos, com maior oferta de serviços e infraestrutura, enquanto mostram às pessoas negras casas em áreas mais diversificadas racialmente e com menor oferta de serviços. Ao ser replicada na esfera digital, a prática de segregação e desigualdade racial se perpetua na vida real.

Quando debatemos sobre a transformação digital do Estado e construção de cidades inteligentes, devemos considerar o caráter multidimensional das desigualdades digitais e seus possíveis efeitos. Políticas de inclusão digital, como o WiFi LivreSP, Fab Lab Livre e Telecentros em São Paulo, são imprescindíveis, pois combatem a desigualdade digital na dimensão de acesso e habilidades. Ainda há muito o que discutir em relação à dimensão dos diferentes usos, mas é razoável supor que investimentos em educação e emprego, por exemplo, podem ajudar a diminuir as desigualdades no uso da internet e de dispositivos digitais.

Por fim, é importante refletir sobre as ferramentas digitais de processamento e análise de dados do Estado, sejam as que automatizam a análise de elegibilidade dos cidadãos e cidadãs às políticas públicas (como é o caso do auxílio emergencial), sejam relacionadas à gestão das cidades (como o sistema de policiamento preditivo). As cidades devem utilizar tecnologia para melhorar o atendimento ao cidadão, reduzir as desigualdades e tornar a vida mais simples e sustentável. Mas cidades organizadas com foco no cidadão são inteligentes apenas quando também são humanas.

Daniel Annenberg é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Foi um dos idealizadores do Poupatempo e seu superintendente por quase 10 anos (1996-2006). Atuou como Diretor-presidente do Detran-SP (2011-2016), Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia (2017-2019) e Vereador de São Paulo (2017-2020). Atualmente é consultor da Fundação Vanzolini e um dos professores do curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas.

Marianna Sampaio é mestra e doutoranda em Administração Pública e Governo pela FGV-EAESP, bacharela em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) Atua como analista de políticas públicas e gestão governamental da Prefeitura de São Paulo. Foi secretária-adjunta de Inovação e Tecnologia (2017-2019) e de Negócios Jurídicos (2014) na cidade de São Paulo e é uma das professoras do curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas.

A quarta edição da série de encontros Como inovar na gestão municipal?, promovida pela Associação Paulista de Municípios e a Fundação Vanzolini, abordará um tema que está constantemente em pauta e que não pode deixar de ser mencionado quando se trata de cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável.

Segundo o Relatório especial sobre mudança climática e terra divulgado em agosto pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o mundo esquentou 1,09°C desde a era pré-industrial, e apenas 0,02°C podem ser atribuídos a causas naturais. É visível o impacto que essas mudanças causaram no cotidiano e que podem piorar se gestores não implantarem mudanças com foco na sustentabilidade. Por isso, o webinar on-line Como inovar na gestão municipal? Desenvolvimento sustentável, que acontecerá no dia 30 de setembro, às 10h, reunirá gestores municipais, estaduais e especialistas para debater sobre o assunto.

A conversa conta com a presença do presidente do Fórum Nacional de Secretários de Estado de Minas e Energia e Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Marcos Penido. Engenheiro civil, ele foi diretor e presidente da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), atuou no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e trará informações importantes sobre programas do Estado, caminhos e exemplos para a implantação de projetos de sustentabilidade e meio ambiente nos municípios.

Também participa o ex-vereador de São Paulo, Gilberto Natalini. Médico de formação, Natalini foi presidente dos Conselhos Estadual e Nacional dos Secretários Municipais de Saúde e há 50 anos atua na defesa do desenvolvimento sustentável e da preservação do meio ambiente. Ele irá trazer sua experiência em projetos e iniciativas voltadas à construção de uma cidade sustentável.

Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, membro da Academia Brasileira de Ciências e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol e o Centro de Síntese USP-Cidades Globais, ele irá falar sobre novas abordagens que podem ser utilizadas por gestores públicos municipais de forma a priorizar metas que levem a aumentar a sustentabilidade urbana, e também sobre Gestão Sistêmica, importante conceito para administrar sistemas complexos, como uma cidade.

A mediação do webinar será do presidente da APM e ex-Prefeito de Campos do Jordão, Fred Guidoni, e do consultor da FCAV e ex- Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo, Daniel Annenberg. Com grande experiência em administração pública, eles irão contribuir para o debate sobre sustentabilidade.

Serviço
Webinar “Como inovar na gestão municipal?”
Tema: Desenvolvimento sustentável
Data: 30/09/2021
Horário: 10:00 às 11:30 h
Onde: ZOOM (participantes inscritos), e no Youtube e Facebook da APM.
Inscrição: www.apaulista.org.br

Por Daniel Annenberg e Marianna Sampaio

Uma das formas atuais mais recorrentes de se associar tecnologia e cidades é por meio da ideia de smart cities ou cidades inteligentes. O conceito se popularizou nos últimos anos e vem sendo usado com significados diversos. Em geral, se refere às transformações digitais na organização da cidade e à incorporação intensiva de tecnologias da informação e comunicação nos serviços públicos. A visão associada a essa ideia é de uma cidade intensamente conectada e funcional, com a relação entre poder público e as pessoas fortemente mediada por tecnologias avançadas.

Altamente sedutora, essa ideia de cidades inteligentes tem sido incorporada às agendas e estratégias de desenvolvimento urbano de governos ao redor do mundo, como é o caso da Índia. Por outro lado, também tem sido muito utilizada por empresas que buscam vender serviços que seriam necessários para construir esse tipo de cidade. Obviamente, não podemos e tampouco queremos impedir esse setor de negócios de desenvolver seus produtos e serviços ou condená-lo por saber vendê-los. Por outro lado, é papel dos governos sempre proteger e promover o interesse público e contratar serviços e produtos que de fato atendam às reais prioridades da cidade – e não apenas adquirir produtos porque são “os mais modernos” ou porque tem o “selo smart city”.

A associação entre tecnologia e cidades também é óbvia quando pensamos nas plataformas de intermediação de serviços, como as de transporte individual, hospedagem e entrega. Esses serviços são percebidos por nós não apenas como grandes facilidades no cotidiano, mas como um novo modelo de consumo indispensável, do qual não é possível abrir mão, principalmente durante uma pandemia. Ainda que reconheçamos essas facilidades, é necessário identificar também o impacto desses serviços na forma como a cidade se organiza: justamente por se tornarem tão cruciais, podem ter efeitos coletivos não desejáveis como, por exemplo, o aumento de preços de aluguéis, que pode afetar o direito à moradia. Também significam uma concentração de dados sobre determinadas relações que se desenvolvem nas cidades nas mãos de poucas empresas. Você sabe, por exemplo, a quantidade de entregas de refeições feitas na cidade todos os dias e quantas pessoas trabalham nas ruas para isso acontecer? É importante que governos e sociedade possam conhecer esses dados para pensar políticas públicas para melhorar a vida nas cidades.

Para atingir tudo isso, cidades precisam ter autonomia, senso de prioridade, estratégias de desenvolvimento, planejamento de longo prazo e compromisso com a promoção de direitos para toda a população. Isso significa desenvolver suas capacidades de análise dessa nova realidade (ou seja, ter diagnósticos bem formulados sobre os problemas coletivos) e traçar, com participação social de qualidade, estratégias para resolvê-los.

Também é importante que cidades desenvolvam e atualizem continuamente infraestruturas e capacidades que atendam ao bem coletivo e protejam direitos da população, a fim de que não se tornem reféns tecnológicas de outros atores, incapazes de participar da definição do futuro coletivo. Boas práticas neste sentido são a capacidade de produção de dados sobre a realidade das cidades e a existência de órgãos governamentais com atribuição de impulsionar e avaliar estrategicamente (à luz de um projeto para a cidade) as necessidades de aquisições de tecnologia pelo poder público.

Ao mesmo tempo, outro tema inevitável relacionado a tecnologias e cidades se refere ao desenvolvimento econômico e vantagens competitivas. Para se inserirem nas cadeias de negócios, cidades precisam possuir uma boa infraestrutura tecnológica. E é papel também do poder público garantir um ambiente favorável para o desenvolvimento tecnológico e a inclusão econômica. Digitalizar serviços públicos para facilitar a vida das empresas é um exemplo disso. Foi com esse objetivo que, como Secretário Municipal de Tecnologia e Inovação, desenvolvi o Empreenda Fácil, iniciativa que reduziu, de meses para menos de 4 dias, o tempo para abertura, licenciamento e fechamento de empresas de baixo risco no município de São Paulo.

Por fim, é necessário que o poder público não se esqueça da tarefa de não deixar ninguém para trás. Para isso, é fundamental pensar em ações para inclusão digital e acesso a tecnologias de informação e da comunicação. A tecnologia e a inovação podem, ainda, ser utilizadas de modo estratégico para impulsionar padrões sustentáveis de produção e consumo. Apoiar o acesso de agricultores familiares, que se localizam na área rural de municípios, a novos conhecimentos é um exemplo possível.

Afinal, uma cidade de fato inteligente é aquela capaz de integrar a todos e todas no seu novo patamar de desenvolvimento, bem como de conciliar o desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental e a justiça social, como apontam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e também com a participação social. Para que essas políticas sejam efetivas, é fundamental que conheçamos a fundo a realidade das nossas cidades, que não são todas iguais entre si. No caso de São Paulo, isso se aplica também às suas divisões administrativas internas, já que temos uma cidade muito socialmente desigual.

Todas essas facetas da relação entre cidades e tecnologias demonstram que não há respostas fáceis. Não se trata de escolher o interesse público em detrimento de interesses privados (afinal, uma cidade mais justa precisa também de desenvolvimento e inclusão econômica), mas de entender as contradições entre eles e, sobretudo, de compreender o papel do poder público em proteger as necessidades coletivas e de promover direitos e justiça social e de construir estratégias que utilizem tecnologias como pontes para um futuro mais simples, inclusivo e sustentável para nossas cidades.

Daniel Annenberg é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Foi um dos idealizadores do Poupatempo e seu superintendente por quase 10 anos (1996-2006). Atuou como Diretor-presidente do Detran-SP (2011-2016), Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia (2017-2019) e Vereador de São Paulo (2017-2020). Atualmente é consultor da Fundação Vanzolini e um dos professores do curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas.

Marianna Sampaio é mestra e doutoranda em Administração Pública e Governo pela FGV-EAESP, bacharela em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) Atua como analista de políticas públicas e gestão governamental da Prefeitura de São Paulo. Foi secretária-adjunta de Inovação e Tecnologia (2017-2019) e de Negócios Jurídicos (2014) na cidade de São Paulo e é uma das professoras do curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas.

Muito se fala sobre cidades inteligentes (smart cities, em inglês), mas o que isso significa na prática? Que tipo de transformações são necessárias para que uma cidade possa ser considerada inteligente? Qual o impacto dessas transformações nos serviços urbanos?

Evidentemente, não há uma solução de cidade inteligente que seja boa e efetiva em qualquer contexto. “Para que essas iniciativas de cidade inteligente melhorem a vida das pessoas, é fundamental que conheçamos a fundo a realidade das nossas cidades, que não são todas iguais entre si”, comentou Daniel Annenberg, um dos criadores do Poupatempo, ex-secretário de Inovação e Tecnologia do município de São Paulo e que, atualmente, é consultor FCAV e professor do curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas. Se conhecer a realidade de cada local é essencial para pensar a construção de uma tornar uma cidade inteligente, nada melhor do que a participação de cidadãos e cidadãs neste processo.

No curso Implementando Cidades Inteligentes e Humanas, que também conta com professores como Marianna Sampaio, ex-secretária adjunta de Inovação e Tecnologia em São Paulo, e outros especialistas da área, os alunos poderão discutir e desenvolver suas próprias estratégias para a construção de uma cidade inteligente. Também serão abordadas as ferramentas necessárias para que a discussão sobre cidades inteligentes possa ser feita em conjunto com a população de cada local.

É importante sempre ter em mente que a construção de uma cidade inteligente é uma tarefa de longo prazo. “Para atingir tudo isso, as cidades precisam ter autonomia, senso de prioridade, estratégias de desenvolvimento, planejamento de longo prazo e compromisso com a promoção de direitos para toda a população”, finalizou Annenberg.

Mesmo ciente de que o caminho a ser percorrido é longo, já há alguns exemplos de boas práticas no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, o Empreenda Fácil otimizou o tempo de abertura e fechamento de empresas de baixo risco. O DescomplicaSP e a central de atendimento SP156 melhoraram o atendimento ao cidadão e à cidadã, seguindo o emblemático exemplo do Poupatempo.

Esses e outros casos serão apresentados no webinar Implementando Cidades Inteligentes e Humanas, com Daniel Annenberg e Marianna Sampaio, que acontecerá no dia 9 de setembro.

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