‘Ato de tornar novo’, ‘dito como visto pela primeira vez’, ‘o que substitui algo’… são vários, dentre estes os significados utilizados para explicar inovação. Baseada em sua etimologia, o estudo que fundamenta o sentido das palavras, a partir da análise dos elementos que as constituem, deriva do termo em latim innovatio (in “em” + novus “novo”). De sua origem, parte de sua grande relevância.
Certa vez, durante palestra de um proeminente especialista em um congresso sobre inovação, notei o grande número de vezes em que foi exaltada a necessidade de ‘fazer as coisas de forma diferente’, algo que parecia ser vendido como essencial para a criação e perpetuação de um clima de inovação. Daí, eventual, proximidade entre o diferente e o novo.
Ainda na década de 1970, Peter Drucker exaltou, pela primeira vez, a figura do trabalhador do conhecimento, aquele que se destacaria no mercado do trabalho por conta de um grande diferencial, a predisposição em criar, compartilhar e disseminar os conhecimentos desenvolvidos, não somente, ao longo de sua carreira, bem como junto aos seus colegas. O conhecimento como meio.
Filhos de uma mesma família, inovação e conhecimento, costumam se entrelaçar ao longo dos inúmeros processos organizacionais, muito por conta de algumas importantes semelhanças, o que, no entanto, não impede a existência de questões que tornam este parentesco mais parecido com a proximidade entre água e óleo.
O desenvolvimento e a estruturação do conhecimento sobre qualquer atividade é que garante a sua repetição, de forma até exaustiva, a ponto de tornar possível a implantação de melhorias que potencializem os melhores resultados. A busca pela excelência é o objetivo central de todo este ciclo. Durante esta caminhada, a inovação está presente a todo momento, justamente na repetição, e não por seguir a mote do ‘fazer diferente’. Sinais dos tempos. Drucker tem razão. Novidade…
A vida real nas organizações assim se apresenta. Os processos devidamente estruturados, assim como o trajeto que nos leva de casa ao trabalho e vice versa. Passamos a ter condições de inserir o novo no processo e/ou no caminho, a partir do momento que temos todo o conhecimento necessário para sua devida organização, quer seja ela tácita ou explícita. Quando isso ocorre, começam a ser inseridos novos players, maneiras, meios e trajetos alternativos, que sinalizam uma gentil piscadela em direção da inovação. Enfim, não se inova sem que haja profundo conhecimento prévio. O trajeto a ser seguido.
Inovar demanda o novo, conforme sua etimologia nos sugere, mas de forma muito conectada aos conhecimentos já presentes em nosso dia a dia. Daí esta questão irmanada que une conhecimento à inovação. Inovar é parir o novo a partir dos conhecimentos desenvolvidos e compartilhados ao longo da repetição de atividades e não da insistente procura pelo diferente.
Impossível falar sobre inovação sem se colocar em prática os conhecimentos que perpetuam o óbvio e a mesmice. Maior verossimilhança, impossível.
Por José Renato Santiago
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Sobre o autor
José Renato Sátiro Santiago Junior – Professor da Fundação Vanzolini na pós-graduação em Gestão de Projetos em Tecnologia da Informação. Grande experiência no desenvolvimento de atividades relacionadas à Administração de Empresa, Gestão de Pessoas, Gestão de Projetos, Inovação e Gestão do Conhecimento. Atuação por mais de 20 anos em empresas nacionais e multinacionais nos segmentos de Óleo e Gás, Engenharia, Telecomunicações, Construção, Farmacêutico, Eletro-Eletrônico e Bens de Consumo. Mestre e doutor em Engenharia pela USP com pós-graduação em Marketing pela ESPM. Autor de dezenas de livros e artigos, dentre os quais se destacam, “Gestão do Conhecimento – A Chave para o Sucesso Empresarial.”, “Capital Intelectual – O Grande Desafio das Organizações.” e “Buscando o Equilíbrio”. Professor da FIA e PUC em cursos de MBA (Master of Business Administration). Administrador do site Boletim do Conhecimento onde publica artigos e ideias cujo tema central é o mundo corporativo, com cerca de mais de 10.000 leitores semanais.
*Os artigos assinados não necessariamente expressam a visão da Fundação Vanzolini.
As opiniões expressas no texto são de inteira responsabilidade do autor.
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