Fundação Vanzolini

Escola com celular

Postado em Trabalhos realizados | 17 de março de 2021 | 4min de leitura
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O celular fascinava os alunos e atormentava os professores. Mas não havia sentido em afastá-lo da escola. A Fundação Vanzolini e seus parceiros atuaram para fazer dele uma ferramenta de educação.

Ano de 2014. O celular já estava disseminado na comunidade escolar e era quase um vício entre os alunos. No entanto, seu uso era tratado com duras regras pela maioria das escolas, que chegavam a confiscar o aparelho. Uma abordagem polêmica do assunto, certamente, que produzia muitos conflitos, mas tinha retaguarda na lei que vetava o uso de celular na escola pública. Telefone móvel e tablet foram transformados numa dupla de vilões, culpados de desvios de atenção dos alunos, de conflitos sobre a privacidade, de facilitar colas nas provas e outros delitos.

Apesar das medidas restritivas, os alunos insistiam na transgressão. Afinal, dispor de várias tecnologias na palma da mão era algo inédito — e fabuloso. Telefone. Câmera. Gravador. Internet. Música. Um conjunto de ferramentas que, se a escola soubesse usar, estreitaria a relação com a educação digital, em benefício do aluno. Mas, para isso, era preciso mudar a mentalidade vigente. Aproveitar a grande atração que o celular exercia entre os estudantes e evidenciar aos educadores as contribuições que ele podia dar ao processo educativo.

Eram muitas ferramentas audiovisuais na mão dos estudantes, para serem usadas apenas em lazer e comunicação. O celular pedia para fazer parte do processo educativo.

Essa perspectiva inovadora exigia um programa com conteúdo específico, direcionado à comunidade escolar. Requeria discussão, reflexão e método, para o professor se apropriar das tecnologias móveis em sala de aula. E a Fundação Vanzolini enfrentou a tarefa. Criou o projeto Escola Com Celular, juntamente com o MIT-Massachusetts Institute of Technology, dos Estados Unidos.

Celulares e tablets foram concebidos como suportes para projetos investigativos, sobre temas relacionados ao meio ambiente. O descarte correto de resíduos e o consumo consciente ganharam projeção, no debate entre estudantes, professores e a comunidade. O programa usava a realidade cotidiana do aluno como objeto de investigação e o seu aparelho de estimação como ferramenta.

Com o apoio da ONG Ecosurf, o Escola Com Celular chegou às escolas públicas de duas cidades litorâneas do Estado de São Paulo: São Vicente e Caraguatatuba. Os alunos investigaram a escola, seu entorno e a cidade. A sustentabilidade foi analisada com os conhecimentos do currículo e os alunos chegaram até a estudar doenças associadas à urbanização, como a dengue. As atividades demonstraram que as escolas podiam contar com as várias tecnologias acopladas ao celular, para desenvolver novas práticas em sala de aula.

O passo adiante exigia que os professores se aprofundassem no estudo da tecnologia, aplicada aos processos educativos. A Fundação Vanzolini ofereceu então a eles, em parceria com a espanhola Fundación Santa Maria, um curso a distância sobre o uso de dispositivos móveis. As atividades focaram no desenvolvimento de projetos curriculares também relacionados à sustentabilidade, um tema fundamental para o planeta.

ADOTADO. VALIDADO. EFICIENTE.

Desde então, o programa Escola Com Celular obteve resultados expressivos, formando 4 mil professores de escolas públicas. A Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras (TIC Educação), realizada periodicamente pelo CETIC-Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, aponta que, hoje, mais da metade dos professores utiliza o celular em atividades com os alunos.

Mais do que isso, os professores se tornaram docentes também em tecnologia. Outra pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil mostra que a mediação dos educadores, na apropriação de recursos digitais pelos alunos, hoje é fundamental. O que confirma o acerto de incorporar as tecnologias ao ambiente escolar, em vez de tratá-las como inimigas.